Blog do Moloni

Igualdade no trabalho

Publicado a 05-06-2025
4 minutos de leitura

Se gere uma empresa e este é um assunto que ainda o preocupa, saiba como dar os primeiros passos, através da consciencialização e do compromisso.

Falar de igualdade no local de trabalho não é um exercício teórico e muito menos um tema ultrapassado. É reconhecer que, mesmo com avanços importantes, desde a legislação nacional às políticas europeias, continuam a existir desigualdades que se manifestam de forma subtil: nas promoções que nunca chegam, nas reuniões onde nem todos têm voz, nos salários que ainda não refletem o mesmo valor para o mesmo trabalho, entre outros.

10 ações concretas para promover a igualdade no trabalho:

    • Definir critérios de progressão claros e objetivos.

Todos devem saber como evoluir, sem depender de impressões pessoais ou afinidades.

    • Recrutar com equidade.

Redigir anúncios neutros, formar equipas de seleção diversas e evitar linguagem enviesada faz toda a diferença.

    • Auditar salários e corrigir desigualdades.

A igualdade salarial não é uma sugestão, é uma obrigação. Desta forma, valores como a transparência são essenciais. 

    • Oferecer verdadeira flexibilidade.

Horários adaptáveis, trabalho remoto e apoio à parentalidade criam condições reais de equilíbrio. 

    • Formar acerca de preconceitos implícitos.

A formação ajuda as equipas a reconhecer e a corrigir preconceitos automáticos que influenciam decisões.

    • Apostar em programas de mentoria acessíveis.

Nem todos têm os mesmos contactos ou confiança. O acesso ao crescimento deve ser proativo e inclusivo. 

    • Disponibilizar canais anónimos para denúncias e sugestões.

Um ambiente seguro é aquele onde todas as vozes podem ser ouvidas sem receio.

    • Acompanhar indicadores de diversidade e inclusão.

Medir é essencial para evoluir. Sem dados, tudo fica na perceção.

    • Fomentar uma cultura de escuta e respeito.

Equipas inclusivas valorizam diferentes experiências e inovam mais por isso. 

    • Dar o exemplo a partir da liderança.

O compromisso com a igualdade deve ser visível nas ações da gestão de topo. O exemplo é (mesmo) tudo. 

Igualdade no trabalho: muito mais do que uma boa prática

Promover a igualdade no local de trabalho não é apenas fazer o que está certo. É cumprir a lei e agir de acordo com os compromissos assumidos a nível nacional e internacional.

Em Portugal, este princípio está bem definido: a Constituição da República Portuguesa garante o direito à Igualdade e à Não Discriminação no acesso ao emprego, à formação e à progressão na carreira. O Código de Trabalho reforça esse compromisso, ao proibir qualquer discriminação com base no género, idade, origem, deficiência, orientação sexual, entre outros fatores igualmente importantes.

Contudo, este dever vai além-fronteiras. A nível europeu, a União Europeia impõe regras claras: o artigo 157.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE estabelece que mulheres e homens devem receber o mesmo por trabalho igual ou de valor equivalente. A Diretiva 2006/54/ce reforça este princípio, exigindo Igualdade no acesso ao emprego, à formação, à promoção e nas condições de trabalho.

No plano Internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma das vozes mais influentes na defesa de um mercado laboral mais justo. Em 1999, lançou a Agenda do Trabalho Digno, centrada em quatro pilares fundamentais: criação de emprego, respeito pelos direitos no trabalho, proteção social e diálogo social. Esta visão foi reforçada pela Declaração sobre Justiça Social para uma Globalização Justa (2008) e pelas Políticas Estratégicas da OIT 2010 - 2015. A mensagem é clara: não há trabalho digno sem igualdade real.

Igualdade em números: o que os dados nos dizem

Apesar do enquadramento legal e do discurso público, a prática deixa muito a desejar e os números falam por si:

    • Em Portugal, as mulheres ganham em média menos 11,1% do que os homens por funções equivalentes.
    • Em cargos de chefia, essa diferença ultrapassa os 850 euros mensais;
    • O país ocupa a 15.ª posição no índice de Igualdade de Género da União Europeia, com 68,6 pontos, abaixo da média comunitária;
    • Cerca de 46% das empresas portuguesas admitem não ter uma estratégia de Igualdade definida ou encontram-se atrasadas na sua implementação.

Estes números não são apenas estatísticas, são sintomas de uma cultura organizacional que ainda tem um longo caminho a percorrer. 

Promover a igualdade no trabalho é, sim, uma questão de valores. Porém, é também uma decisão estratégica. Equipas diversificadas tomam melhores decisões, inovam mais, retêm talento com mais eficácia e representam melhor a sociedade em que estão inseridas. 

Se as bases legais estão implementadas e as políticas estão definidas, o que falta? Implementação consistente, liderança consciente e vontade de transformar a cultura organizacional.

É nas decisões quotidianas - e não nos discursos - que a igualdade se torna realidade. 

Gabriela Silva
Gabriela Silva
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